A insustentabilidade da culpa
Os nossos sentidos fornecem-nos informações do mundo físico que nos rodeia, que nos podem justificar nas nossas acções e nos nossos sentimentos; mas não é tudo... Esse mundo físico não nos define na totalidade, nem as informações que recolhemos dele pelos nossos sentidos...
Há outros sentidos... outras formas que temos de sentir o mundo que nos rodeia e no qual tentamos ser mais.
Há sentidos que são sentimentos, ou talvez haja sentimentos que são sentidos...
Há a sensação de culpa permanente de se tentar ser mais e se sentir que somos cada vez menos (aquele frio no estômago inexplicável, aquelas lágrimas que nos caem pelas faces sem sabermos bem porquê, aquela tristeza sem motivo, aquele silêncio negro, aquela sensação de vazio...).
Como justificar a culpa permanente de se estar a falhar na vida, de se estar a prejudicar os amigos sem saber bem como, de se ter perdido um amigo sem saber porquê mas sentido que a culpa é nossa, de pensar, e de até mesmo esse pensamento prejudicar alguém... de nos prejudicar a nós próprios... uma culpa insustentável.
Sentimos que temos que ser bem mais do que razão, devemos ser coração... sentimos realmente que temos que ser mais... bem mais... que temos que atingir o Outro: o transcendente...
Parece, deveras, um contracenso: querer ser mais, melhor... mas sentir culpa por o tentar, pela forma como se tenta... Haverá algo errado?! Ou será que a busca implica obrigatoriamente a culpa insustentável?
Por vezes, penso que esta culpa que me corrói a alma não é dor mas liberdade. Liberta do mundo dos sentidos físicos, presa do infinito.